A esfericidade da Terra na Antiguidade
Medindo a circunferência da Terra
No século 4 aC o conceito de Terra esférica já era aceito por boa parte dos filósofos gregos. Por volta de 350 aC, Aristóteles formulou seis argumentos para prová-lo e relatou uma estimativa da circunferência da Terra, talvez de Eudoxo, de 400 mil estádios (cerca de 60 mil km). Arquimedes relatou que contemporâneos seus estimavam esse valor em 45 mil km.
No século 3 aC, Eratóstenes, matemático e bibliotecário de Alexandria, realizou uma célebre medição da circunferência da Terra, chegando a 250 mil estádios, o valor mais próximo do real obtido na Antiguidade.
Cláudio Ptolemeu (c. 100 - 170 dC), matemático e astrônomo grego, foi o autor da mais completa obra sobre Astronomia e Geografia da Antiguidade.
Ptolemeu adotou a estimativa de Posidônio da circunferência da Terra, que era de 180 estádios*, 28% menor que a de Eratóstenes.
No mundo árabe, Alfraganus estave envolvido no cálculo do diâmetro da Terra pela medida do comprimento do arco meridiano, juntamente com uma equipe de cientistas sob o patrocínio de al-Ma'mūn em Bagdá.
Al-Biruni fez contribuições importantes em geodésia e geografia; introduziu técnicas para medir a Terra e as distâncias usando a triangulação. Descobriu que o raio da Terra era 6339,6 km, um valor não obtido no Ocidente até o século XVI. Seu canon Mas'udi contém uma tabela com as coordenadas de 600 locais, dos quais ele sabia quase todos. ", escreveu no no Al-Qānūn al-Masʿūdi :
"Se o observador ainda tiver dúvidas sobre a curvatura da Terra, nós lhe daremos como confirmação outro argumento: sua sombra. Uma sombra circular corresponde a um objeto redondo. Se a sombra da Terra projetada na Lua é observada, percebe-se que suas bordas são arredondadas, especialmente quando há um eclipse total; você pode ver então quase toda a circunferência da Terra projetando sua sombra e sua esfericidade. Não pode haver dúvida quanto à forma da Terra: é redonda ".
Mil anos antes de Galileu Galilei (1564-1642), o grande matemático indiano Aryabhata já defendia a tese de que a Terra era redonda e de que girava em torno do Sol, ao contrário de ser perseguido, foi promovido e calculou corretamente a circunferência da Terra.
Também os romanos (Plínio, o Velho – 23-79 d.C.; Macróbio, século IV d.C.; e Pombônio Mela, século I d.C.), basearam suas obras numa Terra esférica. A prova feita por Aristóteles da esfericidade da Terra (indicada pela alteração das posições das constelações quando nos deslocamos pela superfície da Terra) serviu como argumento para vários pensadores da Idade Média e do Renascimento.
Mas os escritores medievais seguiam esses ensinamentos?
Sim, mesmo nos primeiros momentos da Idade Média, eram raros os estudiosos não defensores da esfericidade da Terra. Não era diferente entre os doutores da Igreja Católica, como Santo Agostinho (354-430), São Jerônimo (morto em 420 — será utilizado “m.” nos seguintes) e São Ambrósio (m. 420) — todos possuíam a opinião de que o nosso planeta era esférico.
Nas centenas de anos seguintes, nada mudou nesse sentido. Do século VI ao XIV, todos importantes pensadores medievais afirmavam que o mundo era um globo, como: o genial filósofo e frei dominicano, São Tomás de Aquino (m. 1274 — o mais influente teólogo da história da Igreja Católica); e um dos grandes percussores do método científico, o frei franciscano Roger Bacon (m. 1294). Destacavam-se com os mais influentes intelectuais nessa área: João de Sacrobosco (demonstrou que a terra era um globo em sua obra “De Sphera” — 1230, utilizada como manual básico nas Universidades — criadas pela Igreja Católica — ao longo da Idade Média); e Pierre d’Ailly (1350-1410), arcebispo de Cambrai (seu livro “Imago Mundi”, escrito em 1410, também foi extremamente popular — lido inclusive pelos primeiros exploradores como Colombo).