A Gravura de Flammarion
Qual o propósito da gravura de Flammarion?
Esta gravura foi encontrada, pela primeira vez, impressa na página 163 do livro do astrônomo francês Nicolas Camille Flammarion, cujo título é "L'atmosphère Météorologie Populaire" publicado em 1888.
A gravura encontra-se na segunda parte do livro, intitulada de "A luz e os fenômenos óticos do ar", no capítulo I: "O dia - A forma do céu", página 163. e vem acompanhada de uma legenda onde está escrito:
"Um missionário da Era Medieval disse que ele havia encontrado o ponto aonde o céu e a Terra se tocam..."
Vejamos a seguir o contexto que levou Flammarion a inserir esta gravura em seu livro.
A gravura tem o propósito de ilustrar o que é apresentado no texto deste capítulo, onde, na página 162, Flammarion discorre sobre as elucubrações que os antigos haviam elaborado para explicar a esfera celeste, segue a tradução do trecho:
...Os antigos levaram essa sólida abóboda azul a sério. Mas, como diz Voltaire, era tão inteligente quanto se um bicho-da-seda tomasse sua casca pelos limites do universo. Os astrônomos gregos a representavam como uma substância cristalina sólida, um grande número de astrônomos, mesmo sendo contemporâneos de Copérnico, a considerava material como vidro derretido e endurecido. Os poetas latinos colocaram nesta abóbada, acima de planetas e estrelas fixas, as divindades do Olimpo e a elegante corte mitológica. Antes de saber que a Terra está no céu e o céu está em toda parte, os teólogos instalaram no céu empíreo a Trindade, o corpo glorificado de Jesus, o da Virgem Maria, as hierarquias angélicas, os santos e toda a milícia celeste . Um ingênuo da Idade Média até mesmo diz que, em uma de suas viagens em busca do Paraíso terrestre, chegou ao horizonte onde o céu e a terra se tocam, e que encontrou um certo ponto em que não estavam fundidos, onde ele passou dobrando os ombros sob a tampa do céu. Mas essa linda abóboda sólida não existe! Já fiz um balão mais alto que o Olimpo Grego, sem jamais ter conseguido tocar nesta tenda que foge à medida que é perseguida, como as maçãs do Tântalo.
O excerto acima retrata a curiosidade humana pela esfera celeste desde priscas eras, expondo as divagações dos antigos a respeito do céu.
Flammarion inseriu a gravura que acertadamente ilustrava esta frase em particular:
"Um ingênuo da Idade Média até mesmo diz que, em uma de suas viagens em busca do Paraíso terrestre, chegou ao horizonte onde o céu e a terra se tocam, e que encontrou um certo ponto em que não estavam fundidos, onde ele passou dobrando os ombros sob a tampa do céu."
E em seguida afirma:
Mas essa linda abóboda sólida não existe! Já fiz um balão mais alto que o Olimpo Grego, sem jamais ter conseguido tocar nesta tenda que foge à medida que é perseguida, como as maçãs do Tântalo.
E ainda pergunta:
"Mas o que é este azul que certamente existe, e cujo o véu nos cobre as estrelas durante o dia?"
Cuja resposta é:
Essa abóbada, vista por nós, é formada pelas camadas atmosféricas que, refletindo a luz que emana do Sol, interpõem entre nós e o espaço uma espécie de véu fluido, que varia em intensidade e altura, de acordo com a densidade das zonas aéreas. Levou-se muito tempo para se livrar dessa ilusão e perceber que a forma e as dimensões da esfera celestial mudam com a constituição da atmosfera, com seu estado de transparência, com seu grau de iluminação.
Conclui-se portanto que Flammarion utilizou-se da gravura alegórica, que é baseada no relato do missionário medieval, com a intenção de ilustrar seu texto relatando a maneira como os antigos imaginavam a esfera celeste.
Não existem informações precisas sobre a origem desta gravura, provavelmente foi criada pelo próprio Flammarion, que dominava a arte da ilustração, e como não há outra hipótese, a imagem é atribuída à ele.
O livro
O livro de Flammarion descreve a ciência como se conhecia na época, relata experimentos e observações astronômicas, e trata também de física, química, biologia, navegação aérea por balões, enfim, uma ampla variedade de temas científicos.
É um compêndio interessante que nos leva a conhecer muito do que foi a construção do conhecimento científico atual.
Vejamos alguns exemplos:
Título do capítulo 1: O Globo Terrestre
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Figura da página 20: A terra vista do espaço.
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Página 21: A órbita da Terra e da Lua.
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Página 39: Fig. 14 - Medindo a altura da atmosfera pela duração do crepúsculo.
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Página 41: Fig. 15 - Sombra transparente, beirando a sombra da Terra, observada durante os eclipses lunares.
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Página 74: Fig.35 - Variação da pressão atmosférica, ao nível do mar, do equador aos pólos.
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Página 178: Refração atmosférica
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Página 196: Fig. 1 - Maiores declinações boreais da Lua.
Para maiores detalhes, aqui o link para o livro original:
Fontes: